segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Chargistas têm desenhos vetados e são demitidos de jornal do RS

"Santiago, Kayser, Moa, Agradeço o trabalho que fizemos em conjunto até agora e comunico que o JC está dispensando o serviço de vocês."
Foi com esse e-mail, enviado na tarde de quinta-feira, que os três chargistas do Rio Grande do Sul souberam que tinham sido demitidos do "Jornal do Comércio", de Porto Alegre, onde trabalhavam desde 2003. Os três se alternavam na produção das charges publicadas na página dois do jornal, que é voltado à área econômica. Pelo serviço, cada um ganhava R$ 504 por mês.
O que motivou o desligamento foram estas duas charges, feitas por Santiago e Kayser:





Banrisul, mencionado na segunda charge, é a sigla do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, mantido pelo governo estadual.

O banco foi escolhido como o preferido por empresários, profissionais liberais e executivos na pesquisa "Marcas de Quem Decide", organizada pelo jornal e pelo instituto QualiData. A pesquisa foi divulgada no começo de março deste ano.

As duas charges –feitas nesta semana- não foram publicadas pelo jornal.
No caso de Santiago, a justificativa foi dada por telefone.
"Você não pode fazer um desenho sobre o lucro, porque nós não somos contra o lucro", relembra o desenhista de 57 anos, visto na área como um dos principais de sua geração.
"O jornal é quase um órgão oficial da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul", diz Santiago, forma como Neltair Revés assina os trabalhos que faz.
Segundo ele, o jornal restringia os temas e as pessoas que poderiam ser trabalhadas nas charges.
"Uma hora, não podia falar mal de juiz. Depois, não podíamos falar mal do Germano Rigotto [governador do Rio Grande do Sul entre 2003 e 2006]. Depois, da Yeda Crucius [atual governadora]."
Ele define o caso com uma frase do escritor Millor Fernandes: "Trabalha-se para perder o emprego".
Os outros dois desenhistas também confirmam que era comum a charge não ser veiculada ou eles receberem um telefonema do jornal pedindo mudanças no conteúdo.
"Depois que a charge chegava, eles ligavam dizendo que não poderiam publicar por isso ou aquilo", diz Luciano Kayser, de 37 anos, que leu o e-mail sobre a demissão apenas na sexta-feira de manhã.
Quando o desenho era vetado, era comum uma foto ser usada no espaço reservado à charge.
Esse desgaste, dizem os três chargistas, existe desde que ingressaram no jornal.
"Muitas vezes, os jornais até fazem uma média de que ´somos um veículo democrático´, mas nesse caso nem esse teatro os caras quiseram fazer", diz Moacir Knorr Guterrez, de 45 anos, mais conhecido pelo apelido, Moa.
"Nós já estamos nos reunindo para fazer um livro com nossa visão sobre esse episódio, com as charges que foram publicadas e com as que não foram", diz o desenhista, que teve uma menção honrosa neste ano no Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
A Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul) vê na atitude do jornal um ato de censura.
"Censura aberta, inequívoca, clara, pior até do que na ditadura. Vivemos um momento negro do jornalismo gráfico visual", diz Eugênio Neves, secretário da entidade.
A associação, que conta hoje com cerca de 50 integrantes, não pretende tomar nenhuma providência sobre o caso.
"Numa mídia em que um cliente decide o que é pauta e o que não é, você vai fazer o quê?", diz Neves.
Outro lado.
Pedro Maciel, editor-chefe do "Jornal do Comércio" e autor do e-mail sobre as demissões, diz que os desenhistas não seguiam as orientações do jornal.
"Eu achei que o trabalho deles não estava mais adequado à linha editorial do jornal", diz, por telefone.
"É como uma relação. Quando a relação não está mais adequada, ela é rompida."
O Blog perguntou qual era a linha editorial do "Jornal do Comércio".
"O jornal é especializado em economia e negócios e circula em classes A e B", diz.
Após essas respostas, Maciel preferiu dar o assunto por encerrado.

2 comentários:

  1. Ah! Carimba! Que coisa terrível! eu quase comecei a ler as explicações.

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  2. eh q censura interna..pior q a militar

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